The balzaquiana way of life em: o novo normal?
O novo normal então é isso: aos 32, voltar a ficar uma longa temporada na casa dos pais. Levou as crias com ela e, na ausência de netos de verdade, o amor guardado por quem sabe um dia avós, foi transferido sem nenhuma vergonha às gatinhas.
Eva e Capitu reinavam. Descobriam a liberdade conhecida em cidades do interior. O tempo que passa devagar, o sol e a preguiça, um telhado à disposição para a exploração de duas bichanas adolescentes já cansadas do apartamento na capital, que novidade alguma oferece quando se tem por volta de dezenove anos — isso se verídica a história de que doze meses de um gato ou cachorro correspondem a sete de uma vida.
Eis que Olívia chegou. Uma criança abandonada, que miava de fome. Foi a vó que a encontrou na rua de casa. Abriu a porta rapidinho e pediu minha ajuda, tempo suficiente para a pequena entrar em nossas vidas e tirar um pouco do sossego das mais velhas. Além das gatas, há duas cachorras, Pepê e Gorda, que também compõem esse cenário onde parece sempre caber mais um.
Não diria que elas se entrosaram de imediato. Talvez não tenham se gostado até hoje, nesse ducentésimo e terceiro dia do isolamento social (não sei ao certo, mas quem ainda conta?). Porém onde está Eva e Capitu, tem Olívia. E onde estou, pode apostar, você encontrará as gatinhas. Eu amo, e entro em crise com o rótulo ‘mãe de pet’.
Então lembro das noites com teto solar removível e garrafas de gim no motel Bali… recordo mais um pouquinho, ai, as manhãs de ressaca despertando ao lado de homens feios e desimportantes.
Troquei de bebida e estou quase no fim de uma garrafa de vinho. No celular, a playlist apaixonada de um longínquo 2019. Choro, dou risada, não me escapo e entendo que está na hora de dormir, sem esquecer de escovar os dentes e passar o creme noturno antirrugas.
Acordo a procura de água e olho ao redor.
Que alívio encontrar Eva, Capitu e Olívia comigo. Mato a sede dos contentes e me embolo no edredom com elas de novo. Apenas com elas.